Vão morrer abraçados (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Vão acabar morrendo abraçados
(Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

“Longe das benesses oficiais, mas perto do pulsar das ruas.” A epígrafe que figura na abertura do manifesto de criação do PSDB, tem sido evocada por um crescente número de militantes tucanos para constranger a cúpula do partido, cada vez mais cindido.
Dissidentes do PMDB de José Sarney e Orestes Quércia, os fundadores da legenda, nascida em 25 de junho de 1988, diziam-se “chocados com o espetáculo do fisiologismo político e da corrupção impune” vivenciado pelo Brasil à época e “desiludidos com o governo que deixou de se constituir o primeiro da Nova República, preferindo fazer-se o último da Velha República”.
Passados 29 anos, o PSDB hoje figura como principal fiador do peemedebista Michel Temer, investigado por corrupção passiva, obstrução da Justiça e participação em organização criminosa no Supremo Tribunal Federal. Ao manter os cuidados intensivos do moribundo paciente, o partido preserva posições em quatro ministérios. Nunca esteve tão comprometido com as benesses do poder e distante das ruas, reconhece, com pesar, um parlamentar tucano, desiludido com os rumos da legenda.
A Executiva Nacional do PSDB decidiu, em 12 de junho, permanecer no governo Temer, com o pretexto de garantir a aprovação das reformas trabalhista e da Previdência. Está cada vez mais difícil, contudo, esconder as fissuras na base. Ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso e um dos autores do pedido de impeachment contra Dilma Rousseff, o advogado Miguel Reale Jr. entregou, no dia seguinte à deliberação, a sua ficha de desligamento da legenda, da qual é filiado há 27 anos.
Acordo espúrio
“O argumento de permanecer no governo para apoiar as reformas, não se justifica. O partido poderia dar o apoio no Congresso a elas, mesmo fora da gestão”, afirmou Reale Jr. ao jornal O Globo. “O que existe é um acordo espúrio com Temer, em troca de um apoio a Aécio Neves. Isso é inadmissível.”
Afastado do Senado e da presidência do PSDB, Aécio está ameaçado por um pedido de prisão preventiva solicitado pela Procuradoria-Geral da República. Alvo da Operação Patmos, o tucano responde a uma ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva e obstrução da Justiça.
Aécio foi gravado secretamente pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS, pedindo 2 milhões de reais para custear a sua defesa na Lava Jato, onde responde a cinco inquéritos decorrentes das delações da Odebrecht. O pedido inicial teria sido feito por Andrea Neves, sua irmã. E o dinheiro foi coletado pelo primo Frederico Pacheco.
O exame da prisão cautelar, previsto para o dia 20 último, foi adiado porque a defesa de Aécio apresentou um novo pedido para que a decisão fosse remetida da Primeira Turma, composta de cinco juízes, para o plenário do STF, no qual estão todos os 11 ministros. No dia 17, o relator Marco Aurélio Mello havia rejeitado o pedido da defesa de Aécio, mas terá de analisar o recurso apresentado pelo parlamentar. Não há data para o reexame do caso.
Divisão interna 
Desde a eclosão do escândalo da JBS, a bancada do PSDB na Câmara está dividida sobre a permanência do partido no governo Temer. O grupo conhecido como “cabeças pretas”, em contraposição aos “cabeças brancas” que integram a cúpula da legenda, pressiona para que os tucanos entreguem imediatamente os ministérios e cargos na administração federal.
Grandeza em renunciar
Em artigo publicado na imprensa nacional hoje, Fernando Henrique Cardoso, um dos ícones do PSDB, enfatiza que não vê mais viabilidade no governo de Michel Temer.
O tucano volta a chamar a administração do peemedebista de “pinguela” e diz que a crise é grave.
FHC deixa nítido que Temer deveria renunciar, pelo bem do Brasil.
“Neste quadro, Michel Temer tem a responsabilidade e talvez a possibilidade de oferecer ao país um caminho mais venturoso, antes que o atual centro político esteja exaurido, deixando as forças que apoiam as reformas esmagadas entre dois extremos, à esquerda e à direita.”
O tucano diz ainda que Temer poderia aproveitar o desejo por mudanças e promover uma reforma no Congresso, com uma proposta de emenda constitucional que adiantasse as eleições.
Com Plantão Brasil/Brasil 247

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