Calor, seca, tempestades, enchentes: o que prefeitos e vereadores têm a ver com isso?

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(Ilustrativa/Freepik)

Por Alexandre Gaspari

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Candidatos têm de propor ações para adaptar cidades, proteger a população e combater as mudanças climáticas, já que 97% percebe que o clima mudou para pior.
Setembro começou com a intensificação da campanha eleitoral para prefeitos e vereadores em todo o Brasil, que agora chega às emissoras de TV e rádio país afora. E os candidatos vão mais e mais às ruas para distribuir “santinhos” e tentar conquistar eleitores.
Outra “novidade” que chegou em setembro é uma intensa onda de calor tomando conta da maior parte do território brasileiro, do Paraná a Roraima – mais uma, em pleno inverno. Com temperaturas ficando até 5ºC acima da média em várias regiões quase até meados do mês, meteorologistas já preveem que poderemos ter o setembro mais quente já registrado.
O que uma coisa tem a ver com a outra? Tudo. Vivemos em cidades: é em aglomerados urbanos que residem mais de 60% dos brasileiros. É nelas que sentimos esse calor infernal. Que sofremos com temporais que alagam, provocam deslizamentos, desalojam, desabrigam e matam, como se viu no Rio Grande do Sul em maio. Que ficamos sem água por causa de uma seca histórica que atinge quase 4.000 dos 5.570 municípios brasileiros. Que respiramos um ar poluído, seja pela fumaça dos incêndios na Amazônia, no Pantanal e no Cerrado, mesmo a milhares de quilômetros de distância, seja pela fumaça de carros, caminhões, ônibus, indústrias e termelétricas que queimam combustíveis fósseis.
E é nas cidades que vemos que não estamos preparados para os eventos cada vez mais frequentes e intensos relacionados às mudanças climáticas, causadas principalmente pela queima de petróleo, gás fóssil e carvão. Mas também pelo desmatamento e por práticas devastadoras da agricultura e da pecuária, como a queimada, mesmo a milhares de quilômetros de distância.
Por isso é fundamental que candidatos a prefeito e vereadores apresentem planos de ação para enfrentar a crise climática. Principalmente para preparar as cidades para esse “novo anormal” de calor, chuvas e secas intensos, mas também para reduzir a emissão de gases do efeito estufa.
A crise climática é um tema que atravessa todas as áreas de uma gestão municipal. Com calor extremo, mais mosquitos e mais poluição do ar, mais pessoas são afetadas, pressionando os sistemas públicos de saúde. Secas afetam o abastecimento de água. Inundações e deslizamentos ameaçam a vida de milhares de pessoas, acabam com a infraestrutura urbana e alteram o ir e vir da população. Escolas são fechadas, sejam por causa do calor, seja pelo excesso de chuvas. Toda cidade agora tem de se adaptar para resistir a esses eventos,evitar os piores impactos e preservar vidas.
Se o apelo social não é suficiente, basta fazer as contas: as mudanças climáticas aumentam os gastos e diminuem a arrecadação. Os bilhões de reais injetados no Rio Grande do Sul, que teve de negociar suas dívidas por ter perdido tributos, é um exemplo. Algo que nenhum prefeito ou vereador quer que aconteça.
É aí que está o grave problema da atual campanha eleitoral. Apesar dessa realidade, e embora 97% da população brasileira declare perceber as mudanças climáticas, como mostrou uma recente pesquisa do Datafolha, o tema passa longe das propostas da imensa maioria de candidatos a prefeitos e vereadores.
É como se as imagens dramáticas que todos nós vimos [e vivemos] nos últimos meses não tivessem existido. A maior parte das campanhas eleitorais esqueceu quase todas as cidades do Rio Grande do Sul debaixo d’água; Manaus e Porto Velho, na Amazônia, com um ar quase irrespirável; Cuiabá torrando sob um calor incomum; e a pequena Assis Brasil, no Acre, decretando situação de emergência por sofrer com uma seca intensa e inesperada.
Os políticos locais devem começar mapeando áreas de risco de enchentes e deslizamentos e planejando rotas seguras de fuga, além de obras que adaptem esses locais a chuvas mais intensas e frequentes. Em casos como o de Porto Alegre, é preciso pensar em contenção de água – e garantir sua manutenção adequada, o que não foi feito na capital gaúcha -, além de repensar sistemas de escoamento de água e esgoto.
O calor não é menos perigoso. Casas populares não são construídas normalmente pensando em ventilação adequada, muito pelo contrário. Serviços ao ar livre, inclusive obras públicas e particulares, devem considerar as temperaturas muito elevadas, pelo bem dos trabalhadores.
Estes são alguns exemplos de adaptação, mas existem muitos outros.
Tem mais: quando se fala em mudanças climáticas, o imaginário costuma nos levar a grandes decisões políticas, tomadas por líderes dos países. E isso está correto em parte. Pois a micropolítica, a política do dia a dia, da rua, do bairro, é também importante para conter a crise climática. Estimular o transporte público de qualidade, de preferência eletrificando os meios de transporte urbano, e gerir adequadamente os resíduos sólidos são pontos mínimos a serem levados em consideração.
É preciso administrar efeitos das mudanças do clima enquanto não conseguimos acabar com elas, mas sem esquecer que todos têm um papel a cumprir para enfrentar essa crise. Por isso é tão importante que prefeitos e vereadores estejam engajados nessa tarefa. Por isso candidatos a esses cargos têm de ter a questão climática em seus planos.
Não importa se você mora numa grande metrópole como São Paulo, com seus quase 12 milhões de habitantes, ou na pequena Serra da Saudade, em Minas Gerais, a cidade menos populosa do Brasil, com 831 moradores. Se os candidatos a prefeito e vereadores não têm propostas para a crise climática, fuja que é cilada. E busque aqueles que tratam do tema com a seriedade e a urgência que ele pede. É a sua vida que está em jogo.
Alexandre Gaspari, é jornalista no ClimaInfo

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