Caminhoneiros descartam apoio à greve geral proposta por bolsonaristas
Entidades do comércio e da indústria veem movimentos localizados; caminhoneiros dizem que protestos são apoiados e promovidos por alguns empresários
Diante da convocação para uma possível “greve geral” hoje, projetada por manifestações antidemocráticas bolsonaristas, Carlos Alberto Litti Dahmer, diretor da CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística), disse que vídeos antigos, sobre as manifestações de 7 de Setembro, voltaram a circular para propositalmente confundir as pessoas sobre uma nova manifestação nesta segunda (7) e, devido à grande circulação entre os grupos de caminhoneiros desse material, ele espera paralisações em todos os estados da região Sul. ‘São vídeos antigos, mas qualquer motivo é suficiente para inflamar uma minoria que não aceitou o resultado da eleição’, disse.
Wallace Landim, o Chorão, também afirma que vídeos antigos, do 7 de setembro, estão sendo reaproveitados para inflamar manifestações que não têm qualquer organização de grupos ligados a caminhoneiros. Ele diz que o que se vê são atos organizados junto a empresas nos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso e que ‘90% dos caminhões de empresas que aparecem nos vídeos, são ligadas ao agronegócio.
Na noite de ontem (6), balanço da Polícia Rodoviária Federal (PRF) apontava que os atos antidemocráticos estão chegando praticamente ao final nas estradas, com apenas dois pontos de bloqueio parcial em rodovias do país. O estado de Rondônia voltou a registrar uma interdição em rodovias federais por manifestantes neste domingo. As interdições ocorrem em Vilhena (RO) e Altamira (PA). A PRF já acabou com mais de mil bloqueios desde o último domingo (30).
Mentira
Nos grupos dos manifestantes, vem sendo amplamente divulgada a mentira de que há comprovação ou fortes indícios de que a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha sido obtida mediante fraude eleitoral.
Segundo as mensagens, a organização estaria sendo feita pelo MNRC (Movimento Nacional de Resistência Civil), grupo que pede a impugnação das eleições e a destituição de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). ‘Feche sua empresa, indústria, fábrica e comércio e vamos lutar contra a instalação do comunismo’, dizia o convite distribuído na sexta-feira (04).
Normalidade
A ABTTC (Associação Brasileira dos Terminais Retroportuários e das Transportadoras de Contêineres) informou não ter recebido notificações sobre eventuais paralisações nesta segunda (7) e está desenvolvendo um dia normal de trabalho.
Daniel Reis de Paula, o Queixada, presidente da associação de caminhoneiros em Oliveira-MG, disse que não há participação organizada de caminhoneiros em qualquer protesto previsto para hoje. ‘Não tem nada a ver com caminhoneiros isso’, afirmou.
Chorão, Queixada e Dahmer mencionaram que, de algum modo, as paralisações estão sendo promovidas ou apoiadas por empresários e fazendeiros, que fornecem alimentos para manifestantes, param caminhões de suas frotas nas estradas e até mesmo despejam entulho e terra em alguns trechos.
Entidades empresariais e sindicatos patronais ouvidos pela Folha disseram não ter conhecimento de adesão à convocação. Não está descartado, porém, que individualmente donos de comércios e fábricas decidam pela paralisação, mas, até sexta a percepção era de que não havia clima para um locaute (proibido pela lei).
Entidades nacionais, como CNI (Confederação Nacional da Indústria) se manifestaram contrárias aos protestos afirmando que que é ‘veementemente contrária a qualquer manifestação antidemocrática, que prejudique o país e sua população’.
Da Redação com Folha de São Paulo