Chacina no Pará: 10 sem-terras são mortos pela polícia
O clima de violência parece estar se disseminando no País, visando assentados em regiões distantes. Depois da chacina de Colniza (MT) (leia matéria, aqui), ocorria no dia 20 de abril último, onde 10 assentados foram mortos por um bando de encapuzados (posteriormente identificados), na quarta-feira desta semana (24), nova chacina aconteceu, mas no Pará e promovida por policiais militares.
Vítimas
Nove homens e uma mulher morreram em um confronto com a polícia na fazenda Santa Lúcia, em Pau d’Arco, na quarta-feira (24). A Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (Segup) disse que os policiais foram recebidos à bala quando tentavam cumprir 16 mandados de prisão contra suspeitos do assassinato de um vigilante da fazenda, no fim de abril. As equipes que participaram da operação vão responder a inquéritos policiais militares.
A fazenda Santa Lúcia é alvo de disputa de terras. O local foi invadido três vezes desde 2015. Em abril o proprietário conseguiu a reintegração de posse, e contratou seguranças para vigiar o local. Segundo o advogado das vítimas, os trabalhadores rurais já haviam informado ao Incra, a ouvidoria agrária e ao Tribunal de Justiça do Pará sobre as tensões na região.
O Incra informou que não houve acordo financeiro com o dono da fazenda para desapropriar a área para reforma agrária, e que tomou todas as medidas possíveis para regularizar as famílias e evitar conflitos na região.
Execução
Em depoimento sigiloso obtido pela reportagem da FolhaPress, um sobrevivente do massacre disse que os sem-terra já estavam dominados quando foram mortos a tiros por policiais.
Segundo relato ao Ministério Público, os agentes chegaram por volta das 7h ao acampamento, e 28 sem-terra do grupo, se dispersaram correndo.
Parte deles, incluindo a testemunha, teria se escondido em um matagal próximo e, por causa da chuva, se abrigado sob uma lona. Neste momento, a polícia os alcançou e começou a disparar, diz o relato.
Ele novamente correu e se escondeu a cerca de 70 metros de onde estava abrigado. Dali, escutou uma sequência de xingamentos e aparentemente chutes seguidos por disparos. “Logo tudo era repetido com outra pessoa”.
Por vezes, ainda de acordo com a versão do sem-terra, um policial perguntava antes de disparar: “Vira prá cá, vagabundo. Cadê os outros?”. A ação teria durado cerca de duas horas. Ao final, teria ouvido “gritos e gargalhadas, como se estivessem festejando”.
O depoente admitiu que havia armas no acampamento, incluindo o fuzil mais tarde apresentado pela polícia, mas disse que não houve revide.
Ele prestou depoimento sob a condição de anonimato e foi encaminhado ao programa de proteção a testemunhas.
O relato contradiz a versão do governo do Pará, segundo a qual 24 policiais civis e militares foram recebidos a tiros quando chegaram ao local.
Objetivo
A operação policial teria o objetivo de cumprir quatro mandados de prisão relacionados ao assassinato de um segurança da fazenda invadida, no dia 30 de abril.
Em decisão criticada pelo Ministério Público Federal, os corpos foram retirados do local por policiais civis e militares antes da perícia, contaminando a cena do massacre.
“O depoimento fortalece as dúvidas sobre a versão da polícia surgidas após a visita ao local”, afirma a procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat, que vistoriou o local na quinta.
Para o presidente do CNDH (Conselho Nacional dos Direitos Humanos), Darci Frigo, que também esteve na região, todas as informações disponíveis até agora indicam que não houve confronto. “A dúvida é: por que se usou tanta violência nessa operação?”.
O caso também está sendo investigado pelos ministérios públicos Federal e do Estado. A OAB do Pará, também acompanha as investigações.
Da Redação com informações Conexão Jaru/Notícias ao Minuto