Climatologista da USP alerta para chuvas acima da média, secas, ciclones e outros eventos climáticos extremos
O ano de 2023 foi o mais quente em 174 anos de análises meteorológicas, segundo dados da OMM (Organização Meteorológica Mundial). Conforme o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), o recorde é resultado de um aumento de 1,4°C na temperatura média da superfície global, que é de 22,9ºC.
O aumento dos termômetros tem impactos visíveis no Brasil, como a seca nos rios da Amazônia e os ciclones no Rio Grande do Sul, além das ondas de calor em vários estados do país. A má notícia é que essas consequências devem persistir durante o verão no Hemisfério Sul.
Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados e da USP, acredita que ainda existe uma saída para impedir o aquecimento global. O especialista, que também é copresidente do Painel Científico para a Amazônia e um dos autores do relatório de mudanças climáticas que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2007, afirma que não é impossível, apenas “difícil”.
Clima em 2023
O climatologista explica que em 2023 o El Niño (fenômeno que provoca o aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico) contribuiu com aumento da temperatura global em 1,4ºC acima da média, resultando em recordes de temperaturas em todo o planeta. Isso causou fenômenos climáticos extremos, como a seca histórica na Amazônia.
A previsão para fevereiro, março, abril e maio é de uma nova seca no semiárido do Nordeste, onde deveria ser estação chuvosa. O fenômeno meteorológico também está relacionado aos ciclones extratropicais que causaram mortes no Sul e às ondas de calor no Centro-Oeste e no Sudeste.
Embora o El Niño seja natural, o aquecimento global está fazendo os fenômenos naturais baterem recordes de intensidade e os eventos extremos se tornarem mais frequentes.
Expectativas para 2024
Nobre explica que as projeções para este ano são de um verão com “chuvas acima da média no Sul, secas pronunciadas na Amazônia e no semiárido do Nordeste e a continuidade de ondas de calor no Sudeste e no Centro-Oeste”.
“Além disso, como [o planeta] está muito quente, o oceano Atlântico evapora muita água, então podemos ter picos de chuva e, de novo, ciclones lá no Sul. Isso tudo vai até meados do ano. Depois o El Niño já terá enfraquecido muito e no segundo semestre já terá desaparecido. Aí, lógico, a temperatura global cai um pouco. Mas ela não vai voltar para o mesmo patamar de 2022. Ttalvez fique 1,4ºC [acima da média histórica]”, diz o especialista.
Segundo ele, se as emissões de gases do efeito estufa continuarem no ritmo atual, cerca de 90% dos corais serão extintos até 2050. Como consequência, milhares de espécies aquáticas também deixarão de existir e a humanidade atingirá o chamado de ponto de não retorno, ou seja, a temperatura nunca voltará ao que era antes.
Com Edital Concursos/Portal R7