Com ficha limpa, cabo suspeito era militar exemplar
Cabo Vagner Tandu, que no momento está em licença médica, tinha a confiança do então diretor do Arsenal de Guerra, de quem era motorista
O cabo do Exército Vagner da Silva Tandu, 24 anos, apontado pelas investigações do Comando Militar do Sudeste como um dos militares com participação direta no furto de 21 metralhadoras do Arsenal de Guerra de São Paulo, em Barueri, na região metropolitana, era considerado um profissional exemplar e acima de suspeitas.
Fontes do Exército ouvidas pelo Metrópoles disseram que Vagner tinha a confiança do então diretor do Arsenal, tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista, razão pela qual foi escolhido para ser seu motorista.
Além de militar disciplinado e aparentemente confiável, Vagner tinha um histórico até então impecável. Não há registros criminais em seu nome, na Justiça comum nem na Militar.
Foi essa condição que permitiu ao cabo deixar o quartel, possivelmente entre os dias 5 e 8 de setembro, com o armamento de guerra num veículo oficial sem levantar suspeitas. De acordo com as investigações, ele levou as metralhadoras para fora do quartel para que elas fossem negociadas com facções criminosas em São Paulo e no Rio de Janeiro.
No dia do crime, outros cinco militares ajudaram Vagner diretamente. As investigações indicam que eles realizaram o corte intencional de energia do quartel, o que impediu as câmeras de segurança de registrarem a ação.
Pedido de prisão
O Comando do Sudeste pediu, na última quinta-feira (26/10), a prisão preventiva do cabo e dos outro cinco militares. Nesse dia, Vagner não compareceu ao trabalho no Arsenal de Guerra. No dia seguinte, esteve no local acompanhado de sua advogada e apresentou um laudo psiquiátrico para justificar sua ausência por mais uma semana.
Como a Justiça Militar ainda não se manifestou sobre o pedido de prisão, o cabo não é considerado foragido por enquanto. Segundo fontes do Exército, a advogada de Vagner tem mantido contato direto com o Ministério Público Militar para tratar da situação de seu cliente.
O Metrópoles não conseguiu localizar a defesa do cabo do Exército. O espaço está aberto para manifestações.
Além do pedido de prisão dos seis homens, o Exército aplicou “punição disciplinar” a outros 17 militares por falha de conduta na fiscalização do armamento. A punição consiste em uma espécie de prisão administrativa no quartel, que pode durar de 1 a 20 dias.
O então diretor do Arsenal, tenente-coronel Rivelino Batista, não é formalmente investigado, mas foi exonerado do cargo. Ele foi substituído pelo coronel Mário Victor Vargas Junior.
A descoberta do furto
O furto das 13 metralhadoras calibre .50, que podem derrubar aeronaves, e de oito calibre 7,62, que perfuram veículos blindados, só foi descoberto pelo Exército mais de um mês depois do crime, no último dia 10, durante inspeção no quartel. Reportagem do Metrópoles levou o caso a público três dias depois.
Até o momento, 17 metralhadoras foram recuperadas – oito no Rio de Janeiro e nove em São Roque, no interior de São Paulo (foto em destaque). As polícias Civil e Militar ainda buscam as quatro armas restantes.
Assim que o crime foi descoberto, todo o quartel – cerca de 480 militares – acabou retido para que o Exército ouvisse depoimentos e reduzisse a quantidade de suspeitos envolvidos no episódio. O aquartelamento teve fim na última terça-feira (24/10).
Segundo a Polícia Civil, as armas furtadas seriam vendidas para as facções Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e Comando Vermelho (CV), do Rio, que recusaram o armamento por falta de peças e por causa do estado de conservação das metralhadoras.
Fonte: Metrópoles