Decorridos 10 anos, ainda não há punidos por acidente com avião da TAM

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No acidente, 119 pessoas perderam a vida (Milton Mansilha/Agência Lusa)

No acidente, 119 pessoas perderam a vida
(Milton Mansilha/Agência Lusa)

Passados dez anos, ninguém ainda foi condenado pelo acidente com o Airbus A320 da TAM, ocorrido em 17 de julho de 2007, no Aeroporto de Congonhas (SP), que vitimou 199 pessoas, dentre elas o rondonopolitano Bruno Lima Nascimento, à época com 20 anos.
Após não conseguir frear, quando pousava no aeroporto, o avião da TAM passou por cima da avenida Washington Luís e se chocou com dois prédios e um posto de gasolina, que ficam em frente à cabeceira da pista. Um dos prédios atingidos, era da TAM Express.
Julgamentos
No decorrer desses dez anos, o caso foi julgado pela primeira e segunda instâncias da Justiça Federal e todos os denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF), foram absolvidos.
Também nesse período, a TAM se juntou à empresa aérea chilena LAN – fusão que ocorreu no dia 5 de maio de 2016 – e virou a Latam Airlines ou somente Latam, como está estampado em suas aeronaves.
Fatores conclusivos
O acidente foi investigado por três órgãos. Um deles, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Aeronáutica, que concluiu que uma série de fatores contribuíram para o acidente. O relatório do Cenipa constatou, entre vários pontos, que os pilotos movimentaram, sem perceber, um dos manetes para a posição idle (ponto morto) e deixaram o outro em posição climb (subir). O sistema de computadores da aeronave entendeu que os pilotos queriam arremeter (subir).
O documento também relata que não havia um aviso sonoro para advertir os pilotos sobre a falha no posicionamento dos manetes e que o treinamento dos pilotos era falho: a formação teórica dos pilotos, pelo que se apurou na época, usava apenas cursos interativos em computador. Outro problema apontado é que o co-piloto, embora tivesse grande experiência, tinha poucas horas de voo em aviões do modelo A320, e que não foi normatizada, na época, a proibição em Congonhas de pousos com o reverso (freio aerodinâmico) inoperante, o que impediria o pouso do avião nessas condições em situação de pista molhada.
MPE
De acordo com o promotor Mário Luiz Sarrubbo, do Ministério Público Estadual (MPE), “o acidente poderia e deveria, ter sido evitado. A aeronave, com o reverso inoperante, não poderia pousar naquela pista naquela circunstância”, culpabilizando 11 funcionários da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) e da TAM, além de uma menção contra a Airbus, por não colocar como mandatório o dispositivo de segurança – aviso sonoro sobre o posicionamento dos manetes.
Apesar da demora e da absolvição dos réus nas instâncias iniciais, Sarrubo destaca que , “Essa questão, eu digo para as famílias, não terminou. Tenho convicção de que a Justiça ainda dará uma resposta ao recurso pendente de apreciação. Tenho a firme convicção de que nós teremos uma resposta positiva da Justiça, com a responsabilização penal daqueles que atuaram, eu insisto, não dolosamente, mas daqueles que colaboraram para esse tipo de evento”.
Reforma da sentença
O advogado Ronaldo Augusto Bretas Marzagão, que era Secretário de Segurança Pública de São Paulo na época do acidente e que defende as famílias, também espera pela reforma da sentença nas instâncias superiores e na punição aos culpados pelo acidente. “Continuo entendendo que, na realidade, quando o avião se chocou com o prédio da TAM, ali não foi o início da tragédia. Ali foi o fim da tragédia. O início da tragédia foi a autorização do pouso no aeroporto de Congonhas, que em razão das circunstâncias da pista, naquele momento chuvoso, com pista escorregadia, o avião com o reverso pinado, voo lotadíssimo, não deveria ocorrer. Algumas pessoas deveriam garantir que isso não ocorresse e terminaram não cumprindo com seus deveres”, disse o advogado da família.
De acordo com o advogado, “a luta continua”. “Se ainda tivermos recursos para as cortes superiores, o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal, continuaremos lutando porque estamos lutando em nome da memória de 199 pessoas mortas. E também estamos lutando para que o Brasil, alertado por essa tragédia, trabalhe incessantemente para que ela não mais ocorra.”
Histórico
Eram aproximadamente 18h48 do dia 17 de julho de 2007 quando o Airbus A 320 da TAM, que vinha do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, tentou pousar no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. A pista estava molhada e, por causa de uma reforma recente, não tinha grooving (ranhuras, que facilitam a frenagem do avião). De acordo com as investigações, por um erro no posicionamento dos manetes, que determinam a aceleração ou reduzem a potência do motor, a aeronave não parou. Um dos manetes estava na posição de ponto morto (idle), mas o outro em posição de aceleração.
O airbus atravessou a pista, passou sobre a Avenida Washington Luís e bateu num prédio de cargas da própria companhia, provocando a morte de 199 pessoas.
A situação da pista gerava, segundo investigação do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea, uma certa preocupação e desconforto para os pilotos que tinham que pousar em Congonhas, principalmente quando chovia, como era o caso do dia do acidente.
Além disso, segundo o relatório do Cenipa, que investigou todas as causas do acidente e apontou uma série de recomendações para prevenir futuros acidentes, outro problema foi que o avião operava com um reverso (sistema de freio aerodinâmico do motor) desativado (pinado), o que exigiria mais pista para parar a aeronave.
Da Redação com Agência Brasil

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