Janot a Gilmar Mendes: “Acusam-nos de condutas, que lhes são próprias”
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, reagiu com discurso duro, nesta quarta-feira (22), às acusações feitas ontem pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Em sessão no Supremo, Gilmar acusou a PGR de se julgar “acima da lei” e de “vazar” para a imprensa nomes de políticos, que serão investigados na Operação Lava Jato.
Em evento da Escola Superior do Ministério Público da União (MPU), em comemoração aos três anos da Lava Jato, Janot classificou como mentira que beira a irresponsabilidade a informação reproduzida por Gilmar de que a PGR tenha feito “coletiva em off” para repassar nomes da lista da Odebrecht para jornalistas, conforme declarou o ministro.
Recado direto
Embora não tenha citado o nome de Gilmar, Janot mandou recado direto ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo o procurador-geral, a ideia só pode vir de “mentes ociosas e dadas a devaneios” e ao “servilismo”. “Procuramos nos distanciar dos banquetes palacianos. Fugimos dos círculos de comensais que cortejam desavergonhadamente o poder político. E repudiamos a relação promíscua com a imprensa”, declarou.
“Ainda assim, meus amigos, em projeção mental, alguns tentam nivelar a todos à sua decrepitude moral, e para isso acusam-nos de condutas que lhes são próprias, socorrendo-se não raras vezes da aparente intangibilidade proporcionada pela posição que ocupam no Estado”, acrescentou.
Na semana passada, Gilmar Mendes se reuniu diversas vezes com o presidente Michel Temer – além de ter viajado a Portugal com a comitiva presidencial, para o enterro de Mário Soares, no dia 09 de janeiro deste ano – os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), para tratar, segundo eles, da reforma política. Um dos encontros se deu em jantar promovido pelo ministro em sua residência em homenagem ao senador José Serra (PSDB-SP), que fazia aniversário naquele dia.
“Infelizmente, precisamos reconhecer que sempre houve, na história da humanidade, homens dispostos a sacrificar seus compromissos éticos no altar da vaidade desmedida e da ambição sem freios”, discursou.
“Esses não hesitam em violar o dever de imparcialidade ou em macular o decoro do cargo que exercem; na sofreguidão por reconhecimento e afago dos poderosos de plantão, perdem o referencial de decência e de retidão”, emendou.
Janot destacou a diferença moral entre os integrantes do Ministério Público, para os quais discursava, e quem acusa a PGR de cometer crimes, a exemplo de Gilmar. “Não se impressionem com a importância que parecem transitoriamente ostentar. No fundo, são apenas difamadores e para eles, ouvidos moucos é o que cabe e, no limite, a lei. Não somos um deles, e isso já nos basta.”
Fantoche
Em seminário sobre a reforma política ontem, Gilmar não só acusou a PGR de estar por trás dos vazamentos de nomes da “lista de Janot”, em alusão a texto publicado pela ombudsman da Folha de S.Paulo no último domingo (19), como sugeriu que esses processos poderiam ser anulados, pois correm em segredo de Justiça até o momento.
“Não há nenhuma dúvida de que aqui está narrado um crime. A Procuradoria não está acima da lei. E é grande a nossa responsabilidade, sob pena de transformarmos este tribunal num fantoche. Um fantoche da Procuradoria da República”, disse o ministro.
“É preciso tratar o Supremo com mais respeito”, acrescentou, dirigindo-se à subprocuradora-geral da República, Ela Wiecko, representante da PGR na sessão. Ele criticou o uso de “offs coletivos” – informações passadas a um grupo de jornalistas na condição do anonimato – e afirmou que “a divulgação de informações sob segredo de Justiça, parece ser a regra e não exceção”.
Compadrio
Ao encerrar seu discurso, Rodrigo Janot frisou: “Para encerrar, compartilho com os senhores a advertência do mestre Montesquieu, que sempre tive presente comigo: o homem público deve buscar sempre a aprovação, mas nunca o aplauso. E, se o busca, espera-se, ao menos, que seja pelo cumprimento do seu dever para com as leis; jamais por servilismo ou compadrio”.
Mais uma exposição degradante do Brasil, para o resto do mundo.
A que ponto chegamos?
Fonte: Congresso em Foco