“Mineirinho” teria recebido 50 milhões de propina, via conta em Cingapura
Talvez acreditando que seu veneno não fosse redundar em uma arma contra si mesmo, Aécio Neves apelidado de “Mineirinho” nas listas de propinas da Odebrecht, hoje deve estar às voltas com sua própria consciência (se é que tenha), pelo que se transformou seu ódio instilado impiedosamente e sem controle, por ter perdido a eleição presidencial em 2014.
Acreditando que pudesse usufruir de influência e impunidade, talvez ele também tenha pensado quando deu início à sua sanha, de que jamais seria atingido pelas delações, que hoje o sufocam e o encurralam num beco sem saída. Num caminho de mão única, sem volta.
Mas, o “trem” – como diz o mineiro -, acabou pegando nele também.
Ficha de propina
Além dos casos já conhecidos dos aeroportos de Claudio e Montezuma, de Furnas, da Cidade Administrativa de Minas Gerais, delatores da Odebrecht relataram à Procuradoria-Geral da República que o senador mineiro e presidente nacional do PSDB, recebeu no exterior R$ 50 milhões pagos como propina para que ele defendesse os interesses da empreiteira, na construção das usinas hidrelétricas do Rio Madeira, Jirau e Santo Antônio.
Segundo matéria de hoje o Estadão, o caso está sendo investigado em um dos cinco inquéritos contra o tucano, autorizados pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Cronograma de pagamento
Na matéria de hoje do diário paulistano, o ex-executivo da empreiteira Henrique Valladares afirmou que o “cronograma de pagamento” feito a “Mineirinho”, codinome atribuído a Aécio, foi em parcelas que variavam de R$ 1 milhão a R$ 2 milhões. Ele disse que o roteiro para os repasses foi fornecido pelo ex-diretor de Furnas Dimas Toledo, aliado do tucano e chamado por ele de “operador do PSDB”.
A maioria dos depósitos teria sido feita em uma conta em Cingapura controlada por Alexandre Accioly, empresário amigo de Aécio, que é dono da rede de academias Bodytech. Valladares contou que, no total, as propinas pagas a agentes públicos, referentes às usinas, somaram R$ 120 milhões.
O empresário Marcelo Odebrecht relatou que o valor foi acertado com Aécio em uma reunião no Palácio das Mangabeiras, residência oficial do governador de Minas, em maio de 2008, quando o tucano ainda comandava o Estado. Pelo combinado, a Odebrecht teria que pagar R$ 30 milhões e a Andrade Gutierrez, R$ 20 milhões.
O objetivo dos pagamentos seria conseguir apoio de Aécio no relacionamento com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), controlada pelo governo de Minas. A estatal e a Odebrecht integraram o consórcio que venceu a licitação para as obras de Santo Antônio.
Forte influência
Marcelo disse que os “vultosos repasses financeiros” foram feitos ao senador e seus aliados, porque Aécio “sempre teve forte influência na área de energia”.
Aécio foi citado por ao menos cinco colaboradores da Odebrecht como o autor de pedidos de propina e caixa 2, entre 2008 e 2014. Somados, os valores mencionados pelos colaboradores alcançam R$ 89,5 milhões. A PGR, embora sustente haver indícios suficientes de que o tucano se envolveu em corrupção, fraude a licitações e desvio de recursos públicos, ainda não tem clareza sobre a cifra total que teria sido paga a ele e a aliados.
Conforme os delatores, os pagamentos supostamente solicitados por Aécio foram feitos também em espécie a intermediários. “A Odebrecht mantinha um histórico de relacionamento com o senador, pautado na oferta de valores em troca de benefícios ilícitos”, disse o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com base nas colaborações e nas provas apresentadas pelos depoentes.
Defesa
Em nota, o PSDB sustentou que “são totalmente falsas as acusações feitas pelo delator”. “O senador Aécio Neves não recebeu recursos ilícitos e aguarda a identificação das supostas contas citadas para desmascarar mais essa mentira.”
O partido afirmou que, “apesar de os delatores terem enfatizado que pretensas doações mencionadas ao senador não envolveram nenhum tipo de ato ilícito, contrapartidas, corrupção ou propina, o fato é que elas não existiram”.
“A afirmativa sobre a Cemig feita por Marcelo Odebrecht não faz sentido. A empresa Andrade Gutierrez se tornou sócia da Cemig apenas em agosto de 2010, após comprar a participação do BNDES, do governo federal, na empresa mineira. Nessa época, o senador Aécio Neves não era mais governador de Minas.” Sobre a soma dos valores citados pelos colaboradores, a assessoria de Aécio disse, em nota, que “não foi apresentada nenhuma prova que vincule o senador a nenhum ato ilícito”.
Da redação com Estadão