Morre Roberto da Silva, educador brasileiro que superou o sistema prisional

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educador superou sistema carcerário e se tornou uma das referências em Pedagogia Social no Brasil (Marcos Santos/USP Imagens)

Educador superou sistema carcerário e se tornou uma das referências em Pedagogia Social no Brasil
(Marcos Santos/USP Imagens)

Doutor em educação, Roberto saiu da Febem para se tornar uma das maiores referências em Pedagogia Social no Brasil e ativista incansável dos direitos da criança
Faleceu na última segunda-feira, dia 18, aos 66 anos, o professor doutor Roberto da Silva, que se formou em Pedagogia no extinto campus da UFMT de Rondonópolis, hoje UFR, na década de 90.
Docente da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e vice-diretor geral do Instituto Paulo Freire, Roberto foi uma grande referência da pedagogia social no Brasil e um ativista incansável pela defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes, especialmente aqueles privados de liberdade.
Viveu na pele a realidade do sistema socioeducativo, tendo passado 24 anos de sua vida sob custódia, boa parte deles na adolescência, em unidades da Febem. Por isso, tornou-se uma importante voz nos movimentos contra a redução da maioridade penal no Brasil.
Sua infância foi marcada pela mudança de São José dos Campos para São Paulo, após a separação dos pais. Sem amparo financeiro, ele, a mãe e os três irmãos ficaram sem casa por quatro meses. Foi quando o Juizado de Menores foi acionado e encaminhou os irmãos para uma unidade da Febem. A mãe foi internada em um hospital psiquiátrico.
Roberto só foi liberado da unidade aos 17 anos. Na época, morando em uma pensão e trabalhando como office-boy, cometeu pequenos crimes de roubo, que o levaram à condenação a 36 anos de prisão. Ali, ele passa a estudar direito, como autodidata, o que reduziu a sua pena para cerca de sete anos.
Em liberdade a partir de 1984, não parou mais. Concluiu o ensino formal, que havia interrompido na quinta série, e graduou-se em pedagogia pela Universidade Federal do Mato Grosso. Em 1996, tornou-se mestre pela Universidade de São Paulo, publicando o livro “Os filhos do Governo” (Editora Ática). Em 2001, conclui seu doutorado pela mesma universidade, com a tese “A eficácia sociopedagógica da pena de privação de liberdade”, obtendo a livre docência em 2009.
Com a consciência de que a sua trajetória era uma exceção e pensando na reintegração social de jovens egressos do sistema prisional, criou o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação em Regimes de Privação da Liberdade (GEPÊPrivação), integrado por pesquisadores da Faculdade de Educação da USP e do Instituto Paulo Freire.
Roberto, quando de sua permanência em Rondonópolis e nos bancos acadêmicos, nunca escondeu seu passado; mas sim, narrava sua trajetória até então, com simplicidade que lhe era peculiar, para que servisse de exemplo a outros jovens.
Por termos feito parte de seu círculo de amigos, nos unimos nas condolências à família, pela perda inestimável.
Fonte: Correio Braziliense (com Redação)

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