A visão machista de Temer em seu discurso sobre o papel da mulher
O discurso de Michel Temer ontem, no Dia da Mulher, foi marcado por naturalização de deveres, comumente atribuídos às mulheres na sociedade. A participação do público feminino no campo econômico, por exemplo, foi restrita às compras de supermercado.
“Na economia, também a mulher tem grande participação. Ninguém é mais capaz de indicar os desajustes de preço no supermercado, do que a mulher. Ninguém é capaz de melhor detectar as flutuações econômicas do que a mulher, pelo orçamento doméstico”, disse Temer, restringindo a capacidade intelectual da mulher.
Atividade restrita
Demonstrando – de propósito, com certeza – possuir visão retrógrada e obtusa sobre a participação da mulher na sociedade, Temer enfatizou que, “tenho convicção do quanto a mulher, pela minha criação, pela Marcela, faz pela casa, pelo lar, pelos filhos. Se a sociedade vai bem, se os filhos crescem, é porque tiveram adequada formação em suas casas e, seguramente, quem faz isso não é o homem, é a mulher.”
Temer omitiu em seu discurso a defesa de melhores condições e salários dignos à parcela feminina, como por exemplo, de que o trabalho doméstico é o que faz a mulher trabalhar 7,5 horas a mais que os homens por semana.
IPEA
Estudo Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, divulgado na segunda-feira (6) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra que em 2015 a jornada total média das mulheres era de 53,6 horas e a dos homens, de 46,1 horas.
Segundo a especialista em políticas públicas e gestão governamental e uma das autoras do trabalho, Natália Fontoura, isso tem impedido que as mulheres avancem:
“A responsabilidade feminina pelo trabalho de cuidado ainda continua impedindo que muitas mulheres entrem no mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, aquelas que entram no mercado continuam respondendo pelas tarefas de cuidado, tarefas domésticas. Isso faz com que tenhamos dupla jornada e sobrecarga de trabalho”.
Segundo ela, a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho aumentou muito entre as décadas de 1960 e 1980, mas, nos últimos 20 anos, houve uma estabilização.
Só faltou Temer enfatizar, que lugar de mulher é na cozinha e no tanque!
Com Huff Post Brasil