Amigo de Temer diz que recebeu “pacote” a pedido de Padilha, que se licencia
O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, tirou licença do governo, ontem, alegando problemas de saúde. Ele deve fazer uma cirurgia em Porto Alegre, onde tem residência, neste fim de semana para retirada da próstata. As informações são da colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. A previsão é de que ele volte ao trabalho no dia 6 de março. Padilha chegou a ser internado esta semana em Brasília, em decorrência de uma hemorragia provocada por uma obstrução urinária. Os médicos recomendaram a cirurgia, após verificarem o aumento da próstata.
Coincidência
A licença do ministro ocorre quando o empresário José Yunes, ex-assessor especial e um dos melhores amigos de Michel Temer, conta que recebeu, a pedido de Padilha, um “pacote” em seu escritório entregue pelo doleiro Lucio Funaro, operador do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A declaração de Yunes foi dada à própria Monica Bergamo, confirmando depoimento espontâneo prestado por ele à Procuradoria-Geral da República na semana passada.
Em sua delação premiada, o ex-executivo da Odebrecht Claudio Melo Filho disse que enviou dinheiro vivo ao escritório de Yunes também a pedido de Padilha. O ministro não se pronunciou sobre as declarações de Yunes. Na entrevista à jornalista, Yunes conta que pode ter sido um mero “mula” e que nunca teve nada a ver nem com a origem nem com o destino de recursos para campanhas eleitorais.
Pedido de R$ 10 milhões
As declarações do ex-assessor especial da Presidência pressionam Padilha e o presidente Michel Temer. Ainda em sua delação, Claudio Melo disse que Temer lhe pediu, durante um jantar no Palácio do Jaburu, apoio financeiro para o PMDB na campanha eleitoral de 2014. Segundo ele, também estavam presentes ao encontro Eliseu Padilha e Marcelo Odebrecht.
Claudio Melo afirmou que acertou o repasse de R$ 10 milhões ao PMDB. Desse total, R$ 4 milhões ficariam sob responsabilidade de Padilha. O ex-diretor da empreiteira contou que um dos pagamentos foi feito na sede do escritório de advocacia de Yunes, no Jardim Europa, em São Paulo.
Pacote
Em entrevista à Folha, Yunes confirma o que relatou espontaneamente à Procuradoria-Geral da República: que recebeu, naquele ano, em meio à campanha eleitoral, um telefonema de Padilha, afirmando que precisaria de um favor. Conforme o amigo de Temer, o hoje chefe da Casa Civil lhe pediu que recebesse alguns “documentos”, a serem retirados em seguida por um emissário. Segundo ele, quem entregou o documento foi Lucio Funaro, que chegou levando um “pacote”.
José Yunes disse que não sabe o conteúdo do pacote e que não se preocupou em esclarecer o que havia dentro dele. Amigo de 50 anos de Temer, o empresário deixou a assessoria do presidente no final do ano passado após a divulgação da delação de Cláudio Melo. Em carta divulgada quando deixou o governo, Yunes afirmou que tinham jogado seu nome no “lamaçal de uma abjeta delação” premiada e criticou a “fantasiosa alegação, pela qual teria eu recebido parcela de recursos financeiros em espécie”.
Em dezembro, o Palácio do Planalto respondeu que as doações da Odebrecht ao PMDB foram declaradas à Justiça Eleitoral. “Não houve caixa dois, nem entrega em dinheiro a pedido do presidente.” O ministro Eliseu Padilha não se manifestou sobre as declarações de Yunes.
Com Congresso em Foco