Europa suspende importação de carne e mercado interno está liberado
Apesar da enorme repercussão, o governo brasileiro não suspendeu a comercialização interna dos produtos industrializados das empresas JBS e BRF, envolvidas na Operação Carne Fraca, da Polícia Federal.
Pelo contrário: Michel Temer, inclusive, bancou – com o dinheiro público – um churrasco ontem à noite aos embaixadores estrangeiros, em uma churrascaria de Brasília, no sentido de garantir a boa procedência da carne brasileira e minimizar o cancelamento de exportações ao estrangeiro.
Suspensão de importação
Enquanto isso, países da União Europeia (UE) exigem que todas as empresas envolvidas no escândalo da fraude da carne tenham seus produtos impedidos de entrar no mercado europeu e pede que membros do bloco adotem “uma vigilância extra”, ao tratar de qualquer produto brasileiro no setor de carnes.
As informações foram anunciadas pelo porta-voz da Europa para assuntos de Saúde, Enrico Brivio, numa coletiva de imprensa em Bruxelas. “Estamos em um processo, para garantir que todos aqueles envolvidos na fraude não possam exportar para a Europa”, disse, lembrando que Bruxelas manteve “intensos contatos diplomáticos com o Brasil” nos últimos dias. “Pedimos ações e esclarecimentos”, disse.
Ao Estado, Brivio explicou que os europeus pediram no fim de semana que as autoridades brasileiras retirassem da lista de exportadores, todos aqueles citados no escândalo. “Agora, cabe ao Brasil seguir nosso pedido. Eles garantiram que fariam isso”, disse à reportagem. “Depois veremos se isso de fato ocorreu e vamos continua rem contato com as autoridades brasileiras”, indicou.
Vigilância
Segundo ele, a recomendação aos 28 governos europeus é de que sejam “extra-vigilantes” com todo o carregamento de carnes do Brasil e que “aumentem os controles nas fronteiras.”
Brivio, porém, insiste que até agora nenhuma irregularidade foi registrada na entrada de carnes nacionais. “Mas pedimos vigilância e um aumento de controles”, disse.
Segundo ele, é provável que o setor mais afetado seja o de frangos. “Só uma pequena parte (do volume fraudado) parece ter sido exportado”, disse. “Mas estamos avaliando a situação com o Brasil e pedindo esclarecimentos para garantir que todos os lados envolvidos sejam suspensos de vender para a Europa”, indicou.
Daniel Rosario, porta-voz de Comércio da Europa, insistiu que, apesar do escândalo, o caso não deve afetar as negociações que começam nesta segunda-feira com o Mercosul, em Buenos Aires.
Maior concorrente da carne brasileira no mercado europeu, os produtores irlandeses pedem oficialmente à Comissão Europeia o “embargo imediato, de toda a importação de carne do Brasil “.
Em um comunicado emitido hoje (20), a entidade que representa o setor indicou que “a UE tem alertado de forma repetida sobre os riscos da importação de carne da América do Sul “, disse o presidente da entidade, Patrick Kent. “É ultrajante que a UE continue dando uma segunda chance ao Brasil, mesmo depois que o Escritório de Veterinária tenha produzido informes continuamente mostrando deficiências de práticas sanitárias no Brasil”, disse.
“O pior de tudo, é a tentativa de sacrificar a qualidade da produção de carne na Europa ao negociar um acordo comercial bilateral com os países da América do Sul”, atacou. “O impacto disso seria minar totalmente os produtores europeus e irlandeses, inundando a Europa com carne brasileira, barata e abaixo do padrão”, denunciou.
“Carne de qualidade custa dinheiro. A maioria dos consumidores europeus quer alimentar suas famílias com o melhor e chegou a vez de a EU priorizar saúde e agricultura viável, e não acordos estranhos”, afirmou Kent.
OMC
Nesta semana, o caso chegará ainda à Organização Mundial do Comércio (OMC). A entidade se reúne a partir de amanhã (terça-feira), para debater temas fitossanitários.
Na agenda do encontro, fechada há dez dias, não constava nenhuma crítica à carne do Brasil. Mas a reportagem apurou que, desde a eclosão do novo caso, os principais parceiros comerciais se mobilizam para levantar o assunto durante a reunião. Diversos governos também indicaram que querem pedir reuniões bilaterais com o Brasil, nesta semana, para obter esclarecimentos sobre a fraude na carne.
O Itamaraty, junto com técnicos do Ministério da Agricultura, se prepara para dar uma resposta, trazendo os detalhes da investigação da PF e tentando evitar um embargo. Mas, ao mesmo tempo, o governo vai insistir que o escândalo não envolveu exportações e que, portanto, uma suspensão do comércio não seria justificada. O governo também vai bater na tecla de que foram as autoridades nacionais quem investigaram e puniram o esquema e que, portanto, não tentam esconder o caso.
Mas o Estado apurou que parlamentares e produtores europeus passaram o fim de semana em contato para tentar incrementar o lobby e pressionar as autoridades europeias, a rever seus planos de autorização de importação da carne nacional. Na sexta-feira, a reportagem revelou com exclusividade que as maiores cooperativas agrícolas da Europa (Copa e Cogeca), usariam o caso para pressionar os diplomatas europeus a frear novas concessões ao Mercosul.
Coreia do Sul
A Coreia do Sul vai intensificar a fiscalização da carne de frango importada do Brasil e banir temporariamente as vendas de produtos da BRF, após o escândalo deflagrado pela Operação Carne Fraca na semana passada, informou o Ministério de Agricultura sul-coreano em comunicado nesta segunda-feira, 17.
O ministério disse que fornecedores brasileiros de carne de frango terão que enviar um certificado de saúde, emitido pelo governo brasileiro.
Mais de 80% das 107.400 toneladas de frango importadas pela Coreia do Sul no ano passado vieram do Brasil, sendo quase metade fornecida pela BRF.
A Polícia Federal lançou na sexta-feira uma operação para desarticular uma organização criminosa envolvendo fiscais agropecuários e cerca de 40 empresas. A investigação apontou fraudes na fiscalização sanitária, com o pagamento de propina para liberação de mercadorias adulteradas e estragadas.
Uma autoridade do Ministério de Agricultura brasileiro disse, contudo, que os problemas constatados não impunham riscos aos consumidores ou às exportações.
Com Estadão