MP investiga negociação de faculdade de Gilmar Mendes estatizada pelo governo de MT

Na inauguração da Unemat, Mendes aparece ao lado de Silval Barbosa (à sua direita) e José Riva (à sua esquerda) (Andrews Andrade/PMD)

Na inauguração da Unemat, Mendes aparece ao lado de Silval Barbosa (à sua esquerda) e José Riva (à sua direita)
(Andrews Andrade/PMD)

A aquisição pelo governo do Mato Grosso de uma faculdade criada por Gilmar Mendes e sua família em Diamantino, no interior do estado, é alvo de um inquérito civil do Ministério Público que apura a “legalidade e moralidade” do negócio, fechado há quatro anos ao custo de R$ 7,7 milhões.
Desde que foi estatizada na gestão do ex-governador Silval Barbosa (PMDB) e se transformou num dos câmpus da Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat) em Diamantino, a unidade – que por 13 anos foi uma faculdade privada, a União de Ensino Superior de Diamantino (Uned) – opera de forma precária, apesar de ter aumentado o número de alunos. Por falta de recursos, o governo de Mato Grosso, em precária situação financeira, ainda não realizou concurso público e nem tem previsão de quando poderá fazê-lo, como determina a lei, para a contratação de funcionários e professores.
Diamantino é uma pequena e histórica cidade de 20 mil habitantes na região central do estado, terra natal do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e onde parte de sua família ainda vive e atua em negócios como a pecuária.
Para que fosse possível a aquisição da faculdade da família de Mendes pelo governo, os deputados estaduais tiveram de aprovar uma emenda de autoria do Executivo que alterou a Constituição estadual para conceder autonomia orçamentária para a Unemat, com a previsão de um repasse gradual da receita do Tesouro Estadual para a instituição. A emenda foi aprovada pelo Legislativo em julho de 2013, quando as tratativas para a compra da Uned pelo governo de Silval Barbosa já estavam avançadas.
A reportagem da Pública teve acesso ao inquérito civil que tramita na comarca de Diamantino, sobre a aquisição da faculdade pelo governo do estado. A investigação ainda em curso, e que é pública, está a cargo do promotor Daniel Balan Zappia.
Com a venda da Uned, a faculdade privada tornou-se pública e gratuita. Os quatro cursos – Direito, Administração, Enfermagem e Educação Física – foram absorvidos pelo estado. Em depoimento ao inquérito, o ex-reitor da Unemat Adriano Silva, hoje deputado estadual pelo PSB, disse que à época da venda a faculdade da família Mendes se encontrava “em situação difícil em virtude da inadimplência de seus estudantes”.
Ainda segundo ele, os dirigentes da faculdade, junto com forças políticas da região, procuraram a universidade estadual “visando a adoção de providências que garantissem a continuidade do fornecimento do ensino superior na instituição”. Uma ex-funcionária da Uned, que também prestou depoimento, confirma a inadimplência dos alunos, mas disse que as contas da instituição estavam em dia.
O ministro Gilmar Mendes foi um dos sócios-fundadores da Uned em 1999 ao lado da irmã, Maria Conceição Mendes França, e de outros três sócios – no ano anterior, em Brasília, e com outras duas pessoas, o futuro ministro criou também o Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), do qual é sócio ainda hoje. Um dos que se associaram à faculdade em Diamantino foi o empresário Marcos Antônio Assis Tozzatti, ex-assessor do ministro Eliseu Padilha (PMDB) no governo Fernando Henrique Cardoso.
Tozzatti atualmente é parceiro de Padilha na Fazenda Paredão II – alvo do MPE/MT. Ambos tiverem os bens bloqueados pela Justiça no final de 2016, por crimes ambientais cometidos na área localizada dentro do Parque Serra Ricardo Franco, na fronteira com a Bolívia.
Com Agência Pública

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