Nem o Papa Francisco escapa dos conservadores

Cartazes criticam Francisco (Foto: Getty Images)

Cartazes criticam Francisco
(Foto: Getty Images)

As forças contrárias aos ventos de mudanças, de modernização, de libertação de dogmas, da quebra de paradoxos e da contestação da “verdade absoluta” sobre as coisas, parecem – a exemplo do que ocorre no Brasil -, atingir também o papa Francisco.
O sumo pontífice da Igreja Católica, segundo matéria de hoje da BBC Brasil, em reportagem de Christopher Lambe, correspondente do Vaticano para o The Tablet, vem sendo alvo de campanha desde o início deste mês, quando cartazes foram espalhados pelas ruas de Roma, criticando sua forma de governar o Vaticano.
Nos cartazes, o papa Francisco aparece com um olhar carregado, com semblante aborrecido, quase ameaçador acima de uma lista de reclamações: ele havia destituído padres, ignorado preocupações de cardeais e “decapitado” um antigo grupo católico, a Ordem de Malta.
Falso jornal

Capa falsa do L’Osservatore Romano
(Imagem: BBC)

Também um falso exemplar do jornal do Vaticano, o L’Osservatore Romano, que zombava do pontífice, foi enviado a cardeais da cidade., em cuja capa, havia uma lista de perguntas ao papa feitas por um grupo de cardeais conservadores, em que a resposta sempre era sic et non (sim e não). Estavam pregando uma peça no pontífice em seu próprio território – e em latim.
O papa Francisco é popular entre muitos católicos, mas enfrenta bastante resistência às mudanças que promoveu e ainda promove no Vaticano, motivo de fúria entre fiéis das alas mais tradicionais da Igreja.
O principal motivo de tensão tem sido sexo – sim, sexo. Francisco quer que divorciados que se casaram novamente possam comungar.
Seus críticos dizem que isso mina ensinamentos da Igreja sobre matrimônio, porque uniões secundárias seriam adultério. Todas as perguntas na capa falsa do jornal, eram sobre isso.
Oposição
Um cardeal americano, Raymond Burke, está na linha de frente da oposição a Francisco. Burke preza as regras atuais. Foi ele que disse certa vez ao então candidato presidencial John Kerry que ele não poderia comungar por já ter apoiado o aborto.

O conservador Burke
(Foto: Latin Mass Society)

Burke dedicou-se durante a maior da vida ao estudo das leis da Igreja e quer garantir que sejam cumpridas. Ele acredita que o papa está fazendo ajustes perigosos na tradição de mais de 2 mil anos do Cristianismo.
Ele ameaçou até mesmo decretar “um ato formal, de correção de um erro grave” contra o papa. Seria um gesto ousado e raro – algo assim não ocorre há séculos.
O cardeal vive em um grande apartamento na rua construída por Mussolini que leva à Praça de São Pedro, a partir do rio Tibre. É dali que ele comanda sua operação para prover o que chama de “clareza da doutrina”.
“Costumes e tradições”, são muito valorizados por Burke.
Conta o repórter, que o visitou para entrevistá-lo, que seu assessor de imprensa o cumprimentou, se ajoelhando e beijando seu anel de ouro, um sinal de respeito.
“Por outro lado”, cita Lamb, “quando visitei o papa Francisco, nós trocamos um aperto de mãos e não pude deixar de notar um ligeiro desconforto nele, quando as pessoas se ajoelhavam à sua frente”.
Mudanças
Segundo ele, há muitos católicos conservadores que ficam desconfortáveis com as mudanças promovidas pelo papa e sua decisão de viver em uma casa simples em vez de ocupar o apartamento papal, carregar sua própria maleta e andar por aí em seu carro, gestos que rompem com a pompa do cargo e são considerados inadequados por alguns.
Até agora, o papa não parece ter dado importância às críticas. “Não tomo tranquilizantes”, disse em tom de brincadeira recentemente. Sua forma de lidar com o estresse, explicou, é anotar os problemas em um papel e colocá-lo, sob uma imagem de um São José adormecido.
São José é a figura à qual os católicos recorrem quando enfrentam dificuldades de ordem prática. “Agora, ele dorme sobre um colchão de papéis”, acrescentou Francisco.
Distorção proposital
Como se pode ver, evocando a “decência e os bons costumes”, os conservadores do mundo não querem que a materialidade dê lugar à espiritualidade, como apregoava Jesus Cristo, cujos reais ensinamentos foram deturpados ao longo dos séculos, para que a “verdade absoluta” dos homens se sobrepusesse às Suas sábias e divinas palavras.
A fraternidade professada por Francisco, incomoda aos de pensamento obtuso, que o acusam de ferir “os costumes e tradições” da Igreja, assim como a mudança de pensamento do povo, incomoda aos políticos conservadores, que querem se manter no Poder, a todo custo.
Não estranhem se começarem a acusar o papa Francisco de comunista, como fazem com quem se insurge contra o tendencioso e oportunista “estabelecido” pelos conservadores, mundo afora.

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