Passagens da lua-de-mel foram pagas com verba parlamentar
O livro “Nas Asas da Mamata- A história secreta da farra das passagens no Congresso Nacional”, da Editora Matrix que será lançado na próxima terça-feira (17), reconstitui um dos maiores escândalos da política brasileira: a farra das passagens do Congresso Nacional.
Revelado em 2009, o caso saiu do Congresso Nacional e decolou rapidamente: expôs os abusos praticados por parlamentares com cotas de transporte aéreo, desviadas para turismo de parentes e amigos dentro e fora do Brasil e negociadas em um lucrativo mercado paralelo. O livro apresenta novos e destacados personagens e detalha o arquivamento dos processos pela Justiça.
Os Bolsonaro
No capítulo dedicado, por exemplo, aos Bolsonaro, o livro conta sobre a viagem de lua-de-mel de Michelle e Jair Bolsonaro, em 29 de novembro de 2007, para a cidade paranaense de Foz do Iguaçu, cujas passagens aéreas foram pagas com verba da cota parlamentar do então deputado federal Jair Bolsonaro. “Jair e Michelle se casaram no civil em Brasília, no dia28 de novembro de 2007, uma quarta-feira. Sem alarde, rubricaram os papeis em um cartório na W-3 Sul, em Brasília. (…) No dia seguinte ao matrimônio, o deputado e a esposa viajaram para Foz do Iguaçu (PR). Pegaram um voo da companhia aérea Gol, com parada em Curitiba. Os bilhetes custaram R$ 1.729,24, em valores da época, quitados com a quota parlamentar – verba destinada a ressarcimento de gastos do mandato dos congressistas”. Sem devolução dos valores, posteriormente.
A publicação, baseada em reportagens de Eduardo Militão, Eumano Silva, Lúcio Lambranho e Edson Sardinha, revela ainda que o hoje senador Flávio Bolsonaro e o vereador carioca Carlos Bolsonaro também voaram por conta da Câmara, utilizando a cota do pai. Procurado pelos autores do livro, Bolsonaro não se manifestou sobre o assunto.
O episódio conhecido como “farra das passagens” foi revelado pelo site Congresso em Foco em série de reportagens publicada em 2009, com um número imensamente maior de alvos investigados que a Operação Lava Jato e a CPI do Orçamento. A diferença, no caso da farra, é que ninguém foi punido e só uns poucos devolveram o dinheiro.
“O que aconteceu entre janeiro de 2007 e fevereiro de 2009 é uma das mais eloquentes demonstrações da mistura que há entre o público e o privado na elite política brasileira. Aparentemente, boa parte dos parlamentares não via problema em se valer de dinheiro público para fazer turismo”, diz Edson Sardinha, um dos autores do livro e diretor de redação do Congresso em Foco.
O livro mostra que, entre o segundo semestre de 2007 e o início de 2009, Bolsonaro e Michelle percorreram trechos de ida ou volta para o Rio ao menos 13 vezes. O custo desses voos foi de pelo menos R$ 11 mil, em valores da época. Outros integrantes da família de Michelle a acompanharam em alguns passeios.
A verba de transporte aéreo da Câmara também beneficiou os filhos de Jair Bolsonaro. Até mesmo os dois mais velhos, Flávio e Carlos, donos de cargos eletivos e rendimentos próprios já naquela época, repassaram faturas das viagens particulares para os cofres do Congresso.
“Em 21 de janeiro de 2008, a Varig emitiu passagens para Salvador, na Bahia, em nome de Flávio e Carlos. Com eles voou também uma mulher não identificada pelos autores. Foi uma viagem em época de verão para a terra do acarajé, do Pelourinho e de praias ensolaradas. As passagens de volta estavam datadas para dois dias depois. O roteiro completo, pela Varig, custou R$ 3.903,72 para a Câmara, segundo os localizadores dos bilhetes”, aponta trecho do livro.
“No geral, o livro mostra como o abuso com dinheiro público era cometido por integrantes de todos os partidos. No caso específico, revela que Bolsonaro é um grande mamateiro, exatamente o contrário do discurso que ele usou para se eleger presidente”, diz Eumano Silva, um dos autores do livro e ex-editor-executivo do Congresso em Foco.
Da Redação com Congresso em Foco