Tiros em caravana de Lula saíram de fazenda próxima a rodovia

Fazenda fica às margens da rodovia (Arquivo pessoal)

Fazenda fica às margens da rodovia
(Arquivo pessoal)

De acordo com as investigações apuradas até agora pela Polícia Civil do Paraná, os dois tiros disparados contra os ônibus da caravana de Lula no dia 27 de março último, partiram de uma fazenda localizada na altura do quilômetro 29 da rodovia PR-473 – entre as cidades de Laranjeiras do Sul e Quedas do Iguaçu.
Suspeitos
A fazenda pertence a Leandro Langwinski Bonotto, fazendeiro (45 anos) em Quedas do Iguaçu. O suspeito é um homem com histórico de enfrentamento com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que declara abertamente seus sentimentos de raiva e rancor, tanto por Lula quanto pelo MST. Bonotto também é investigado, por ameaça de homicídio a lideranças políticas locais.
Leandro Bonotto nega qualquer envolvimento com os disparos e afirma que, quando efetuados, não estava na propriedade, onde mora seu pai Jocemino Bonotto.
A perícia da Polícia Civil do Paraná confirma que os tiros foram dados de uma altura elevada em relação ao ônibus, possivelmente de cima de um barranco ou árvore. O local exato do ataque, fica em um barranco com árvores. O primeiro tiro foi disparado logo depois de o ônibus ter passado, a uma distância de 19 metros. O segundo tiro, foi dado a uma distância bem maior, provavelmente mais de 50 metros, e de um ângulo muito mais fechado. Por isso, a bala não teve força para quebrar o vidro.
Negam
Tanto Jocemino quanto Leandro, em conversa com a reportagem da Carta Capital, negaram envolvimento com os disparos. “Não sei, não ouvi nada. Que eu saiba, esses tiros foram a uns 15 ou 20 quilômetros daqui”, afirmou Jocemino, em entrevista concedida a poucos metros do local identificado.
“Não sei de nada disso. Eu estava em casa na hora dos tiros”, disse Leandro, sem abrir o portão para receber a reportagem. Sobre sua relação com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que mantém acampamentos e assentamentos na região e sobre o que achava de Lula e da caravana, disse não ter opinião formada nem nada contra o movimento rural ou o ex-presidente.
Antecedentes

Leandro responde a processos por violência
(Arquivo pessoal)

Processos judiciais em andamento, boletins de ocorrência, denúncias de ameaça de homicídio a testemunhos dos cidadãos do município de Quedas do Iguaçu contradizem, porém, o fazendeiro.
A família Bonotto disputa desde a década de 1990 a posse e a propriedade de terras da região destinadas pelo Incra à reforma agrária. Um assentamento do MST prosperou durante 11 anos, até que os Bonotto, em 1999, obtiveram na Justiça uma ordem precária (provisória) de reintegração de posse, e mais de 300 famílias foram removidas da propriedade.
Os tratores destruíram as casas, plantações e instalações de animais. Em 2003, no primeiro ano do governo Lula, o MST voltou a ocupar o terreno, beneficiado por uma decisão judicial em favor do Incra, que voltou a destinar a terra à reforma agrária.
Ao todo, de acordo com dados de processos públicos protocolados no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, as ações judiciais nas quais figura o patriarca Jocemino Bonotto em disputas de terra com o Incra e o MST somam 15,49 milhões de reais. São 49 processos judiciais administrativos e dois criminais, estes em segredo de Justiça. Leandro Bonotto é parte de 53 ações e o montante envolvido chega a 15,36 milhões.
Leandro é descrito como um homem enérgico, sempre armado e que não leva desaforo para casa. “Aqui neste bar, mesmo ele disse que passou duas vezes em frente ao hotel onde estavam estacionados os ônibus do Lula, mas que não fez nada ali porque tinha muita gente”, afirma um morador da cidade, que pediu anonimato.
Em janeiro do ano passado, a Ouvidoria Agrária do Incra na região, por meio do ouvidor Raul Cezar Bergold, recebeu a denúncia de que Bonotto e um grupo de fazendeiros preparavam o assassinato de três lideranças do MST, incluído um advogado e ex-vereador de Quedas do Iguaçu. Lavrou-se um Boletim de Ocorrência na delegacia local. O ouvidor do Incra foi além: fez um relatório sobre o caso e enviou ao Ministério Público do Paraná, à Secretaria de Segurança estadual e à Secretaria Nacional de Direitos Humanos.
O delegado Elder Lauria, responsável pela investigação sobre os tiros na caravana de Lula, informou à reportagem que vai solicitar à delegacia de Quedas do Iguaçu uma cópia do boletim de ocorrência, bem como relatos dos desdobramentos. Informou ainda que a polícia investiga as denúncias que chegaram e “levará autos da investigação, com as informações sobre este caso”.
De acordo com o delegado, Leandro Bonotto e seu pai serão chamados a depor.
Da Redação com Carta Capital

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